Birras: Compreendendo e aprendendo a lidar com elas!

14/06/2016 17:12
Foto: iStock, Getty Images

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Por Rafa Manfroi

As birras são um assunto muito comentado entre mães de crianças de 2 a 3 anos, mas sabemos que este comportamento não é privilégio apenas desta faixa etária. Crianças menores e também maiores podem levar os pais à loucura com seus ataques de birra.

Situações como dar chiliques em público, atirar objetos no chão, chorar ou gritar quando contrariada, querer fazer tudo sozinha e do seu jeito, ficar “histérica” pelo colo da mãe ou dizer não para tudo são situações comuns em famílias com crianças pequenas e este texto vai te ajudar a entender porque tais comportamentos acontecem e como lidar com eles.

Quando a criança passa a andar e ainda não fala direito, apenas balbucia as primeiras palavras, uma ansiedade e curiosidade gigantes tomam conta dela. Ela passa a subir em tudo tentando alcançar o que está diante dos seus desejosos olhinhos, abre todas as gavetas possíveis e tira os objetos diferentes e coloridos com os quais pretende brincar.

Os pais, nesse momento, estão estressados e de língua de fora, pois nunca correram atrás de alguém tão ágil e insistente e a palavra que mais sai das suas bocas é NÃO!!!

A criança, que é emocionalmente imatura, incapaz de lidar com frustrações, começa seus ataques de birra!! Essas birras, acompanhadas muitas vezes de agressividade, são, na verdade, uma resposta do cérebro a situações ainda complexas demais para a criança.

Neurologicamente falando, a criança não possui condições de pensar em “alternativas” para seus impasses e dificuldades, nem de negociar com seus pais na hora das proibições e isso acaba resultando nesses ataques histéricos, que não raro nos deixam morrendo de vergonha e com a paciência esgotada!!

Agora, vocês percebem por que aos 4 anos as birras já começam diminuir progressivamente e consideravelmente? Tudo porque a partir daí temos o aperfeiçoamento da fala, que ajuda a criança a expressar melhor o que pensa, sente ou quer: Seja fome, sono, medo, desconforto  ou ansiedade.

Quando não conseguem dar conta de resolver um problema, realizar uma atividade ou quando estão temerosos com situações novas, as crianças precisam (de forma madura ou não) pedir ajuda.

É ai que precisamos nos colocar no lugar dos nossos pequenos e avaliar se eles têm condições neurológicas e psicológicas para serem maduros e equilibrados tanto quanto esperamos que sejam.

É importante lembrar (para você não surtar e não se jogar no chão e chorar) que nada disso acontece com o objetivo de te provocar ou por vingança porque você não deu a bala que ele tanto pediu antes do almoço.  Ele não tem capacidade intelectual para tanto, ele está apenas agindo como sua capacidade e limitações o permitem.

Porém, Um alerta!!!!

Se isso acontece sempre, em todo o tempo, na maioria dos lugares onde estão, é necessário avaliar se esta criança não está tentando chamar a atenção dos pais por alguma necessidade não atendida ou se não é um pedido de ajuda por algum momento familiar crítico como o afastamento do casal, uma crise conjugal, doença ou morte na família.

Comportamentos inadequados repetitivos não pedem por castigos ou vara, mas por acolhimento, respeito e compreensão.

Dica!! Experimente olhar nos olhos do seu pequeno e como quem enxerga sua alma, seus temores e suas necessidades escondidas, diga: “Eu vejo você, entendo sua dor e estou aqui para te ajudar”.

Muitas vezes, o que as crianças mais precisam é desse olhar, da nossa presença e empatia.

Outra dica bem prática é fazer os “rituais de transição”.

Eles auxiliam a criança a se preparar emocionalmente para a mudança de atividades e com isso diminui a ansiedade e o estresse nas atividades mais corriqueiras do dia a dia.

Mas como evitar os ataques ou diminuir suas consequências?

Antes de sair de casa, fale sobre o programa que farão e o que você espera dele: Obediência, carinho, que fique perto de você, que escolha apenas um item do mercado e assim por diante.

Saia de casa sempre preparado com lanchinhos, água e um brinquedo que possa distrair a criança.

Elogie seu bom comportamento, isso faz a criança continuar obedecendo.

Pai e mãe podem até pensar de forma diferente, mas precisam agir tendo a mesma conduta, usando das mesmas regras e limites e jamais desautorizando um ao outro.

Evite orientações negativas como: Não pegue, não bata, não brigue, não bagunce. Nosso cérebro não reconhece o não e acaba registrando: Pegue, bata, brigue, bagunce. Prefira: Brinque bastante, se divirta, dê seu carinho, obedeça!!

Por fim, não alimente expectativas altas demais e irreais. Seu filho não é perfeito e não é um adulto birrento de 30 anos, ele é criança, com habilidades cognitivas e emocionais ainda não alcançadas e precisando da sua ajuda e compreensão para crescer de forma saudável.

Eu bem sei que o choro tira a gente do sério, mas quando entendemos que esse choro é, muitas vezes, a única maneira de comunicar que algo não vai bem, passamos a aceitá-lo melhor e até mesmo agradecer porque ele existe e nos dá a pista de que algo maior precisa ser olhado.

Tenho aprendido que um forte abraço, olhos nos olhos e um “eu vejo você” podem fazer milagre. É o milagre do amor!!

Com carinho, Rafa.

Rafaella Manfroi é Psicóloga Clínica e Escolar, Especialista em Casais e Familia. Trabalha há mais de 10 anos com Educação e é Autora do Blog Vamos Educar.